No dia 3 de maio o escritor Bruno Vieira Amaral esteve na Biblioteca da Escola Secundária de Sampaio a partilhar as suas experiências de vida, de leitura e de escrita com oito turmas do 12.º ano, em três sessões distintas que decorreram ao longo da manhã.
O autor nasceu em 1978 e viveu até aos 25 anos no bairro de Vale da Amoreira, no Barreiro. Este espaço físico e social é o enquadramento dos dois livros mais marcantes que escreveu — As Primeiras Coisas e Hoje Estarás Comigo no Paraíso —, que lhe valeram os Prémios José Saramago, Fernando Namora, Pen Clube Narrativa, entre outros.

Nestes colóquios, o escritor descreveu o seu percurso estudantil e profissional, referindo que o mesmo foi pontuado por alguns fracassos e acasos felizes que o levaram à escrita. Definiu o seu processo criativo como algo indisciplinado, sempre em construção e reformulação, o que tem imprimido diversidade à sua obra: por exemplo, se o seu livro de estreia — Guia Para 50 Personagens da Ficção Portuguesa — constitui uma apresentação pessoal das figuras ficcionais da nossa literatura que mais o marcaram, já a sua mais recente publicação — Integrado Marginal — é uma biografia do escritor José Cardoso Pires e implicou um trabalho metódico de investigação.

Para Bruno Vieira do Amaral, «tudo pode ser matéria para a escrita». Numa visão ecológica da arte (passe a metáfora), define o escritor como uma espécie de recolector do «lixo dos outros», que recicla ou reutiliza através da arte, transformando-o «noutra coisa». O que distingue os escritores entre si (e os homens uns dos outros) é o olhar e a voz que emprestam às suas narrativas da vida e da imaginação.

E as personagens e vivências descritas em As Primeiras Coisas e Hoje Estarás Comigo no Paraíso são definitivamente visões particulares e inesquecíveis da literatura portuguesa, pois no Bairro Amélia ou no Vale da Amoreira desfilam figuras como a Dona Lubélia com a sua «Amazónia doméstica», a caixa de supermercado Eva, que afinal é uma «ex-cabeleireira de ex-cabelos rubros», Roberto, o «anjo exterminador», que, no fim de contas, era um homem «desprovido do fogo da vingança», e muitas outras como o violento Lito, que cruza o seu caminho com o poeta Virgílio. Apesar da distância temporal e temática, o nome deste poeta do Barreiro é o mesmo que o do vate romano que guiou Dante na Divina Comédia de Dante, mas a paisagem e a essência das obras de Bruno Vieira Amaral, embora por vezes tenham uns laivos de submundo infernal, constituem mais propriamente a geografia do escritor na sua revisitação e sublimação das memórias da vida em busca da identidade humana. Por estas e por outras razões, a Biblioteca Escolar convida os seus frequentadores a lerem a obra de Bruno Vieira Amaral, porque ler um livro assemelha-se a viver uma aventura e, não raras vezes, leva-nos por caminhos «nunca dantes navegados».
Para que possam conhecer mais sobre o autor e a sua obra, deixamos aqui algumas hiperligações de interesse:
Este romance de Bruno Vieira Amaral foi um dos vencedores do Prémio Oceanos de 2018.
A primeira parte do episódio 9 conta com a presença de Bruno Vieira Amaral e evoca a obra Integrado Marginal, uma biografia do escritor José Cardoso Pires.
https://www.rtp.pt/play/p8721/e537545/os-filhos-da-madrugada
